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A importância de uma mídia livre e independente

por Edgard Leite, Diretor do Instituto Realitas



Campos Salles, presidente da República entre 1898 e 1902, não ocultou, em sua auto-biografia, o fato de que financiava veículos de imprensa, através de uma “verba secreta”.

Esse fato foi, sim, considerado irregular naquela época.


Tal atitude implicava numa intromissão na liberdade de opinião e de expressão, na medida em que deformava tal direito, através de uma pressão de natureza econômica.


A relação perigosa entre o poder financeiro e a mídia era, de alguma forma, regular, pois os patrocinadores privados, de uma maneira geral, sempre puderam influenciar nas pautas midiáticas.


Mas em se tratando do Estado, e não do setor privado, parecia claro que se tratava de uma intromissão indevida e corrupta. O governo representa o público. E o público tem diversas opiniões que não aquela interessante a um dado governo.


Mas não se pode deixar de considerar que a mídia, naquela época a imprensa, apenas, era um dos principais elementos formadores de opinião, e controlá-la era preocupação de todo governo que almejava algum grau de apoio às suas posições.


E Campos Salles, especialmente, que fez um governo de ajuste econômico, precisava ter alguma sustentação política para realizar sua plataforma.


Isso implicava num movimento de manipulação de opiniões através de uma ação orquestrada de artigos de fundo, notícias e informações diversas - que exigiam aporte de recursos públicos.


Uma mídia não remunerada, ou de oposição, podia ser muito perigosa. Isto ficou claro com o primeiro grande escândalo de “fakenews” na imprensa brasileira: a divulgação, pelo jornal Correio da Manhã, das ditas “cartas falsas”, atribuídas a Artur Bernades, quando este ia lançar-se candidato a Presidente da Republica, em 1921.


Nessas cartas, Artur Bernardes expressava opiniões muito desabonadoras sobre personalidades do meio militar na época, afirmando a venalidade destes: “Compre-os”, dizia.


Sendo verdadeiras ou não, tais cartas causaram uma crise política sem precedentes.

Foram responsáveis por levar ao primeiro levante tenentista: o 5 de julho de 1922, ou o levante do Forte de Copacabana.


O poder da mídia, nesse caso, foi bastante evidente. E sendo verdadeiras, ou não, as notícias, mostrou que noticiar algo que deveria permanecer secreto, e que revelava a verdade sob uma aparência falsa, podia ter efeitos devastadores.


O papel da imprensa, assim, apesar das imensas pressões que sofre, dos setores privados ou público, adquiriu, desde sempre, esse perfil potencialmente explosivo, no âmbito da política.


O que, usualmente, levou à políticas de censura prévia, discricionária, por parte de governos preocupados.


A necessidade de fundar monopólios midiáticos, igualmente, foi decorrência da necessidade política de estabelecer um controle maior sobre as informações, ou potencializar o efeito das notícias.


Com o advento do rádio e da televisão, os conglomerados midiáticos se estenderam sobre esses novos meios, estabelecendo máquinas de formação de opinião que seguiram sendo cortejadas ou hostilizadas por forças financeiras diversas, e introduzindo, com frequência, elementos pacificadores ou desagregadores no âmbito da vida política.


O advento da internet abriu um novo horizonte nesse campo.


É evidente que o perfil caótico da rede faz lembrar uma época em que pequenos jornais disputavam o público, expressando inúmeras forças sociais e políticas.


Mas a natureza das mídias na rede é ainda mais democrática do que nessa fase heróica dos jornas no século XIX.


Toda a maquinaria da mídia impressa tornou-se dispensável. Meios alternativos pegam carona em aparelhos pessoais de comunicação financiados pelos próprios usuários.


Parece evidente que grandes corporações na internet, já configuradas, pretendem exercer domínio sobre esse universo de mídias que proliferam em todos os lugares e cantos.


Mas o que os últimos anos tem demonstrado é que, embora as buscas possam ser controladas e determinadas mídias sejam excluídas dos algoritmos, ou, eventualmente, possam até ser banidas, uma vez que um meio consegue apoio suficiente ele viraliza e se torna presente e influente.


Nesse sentido, vivemos um momento de grande liberdade no âmbito da circulação de informações.


Principalmente porque faculta, a todos, a possibilidade de sustentar mídias dissidentes através de recursos, sejam financeiros ou morais, que façam frente à ação de setores privados ou do Estado.


Este é um grande momento da história dos meios de informação.


Cabe-nos vigiar para que eles continuem a se desenvolver no espaço da internet e que permitam o florescimento crescente de opiniões e da liberdade de informar.

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