Edgard Leite Ferreira Neto
Há muitos anos atrás, sendo eu um estagiário, escutei algumas palavras do General Gustavo Moraes Rego (1920-1997). Ele já estava afastado do governo (por conta dos desentendimentos gerados pela eleição do General Figueiredo em 1979) mas, por alguma razão, visitou o local aonde eu estagiava.
Lembro-me vagamente que falou alguma coisa sobre o valor da “tecnologia da escassez”. Isto é, como em determinadas sociedades e comunidades, pode-se realizar algo bastante satisfatório, em termos produtivos, utilizando-se ao máximo os recursos tecnológicos tradicionais. Ou, ainda melhor, utilizando-se técnicas complexas, mas elaboradas a partir de elementos simples e disponíveis.
Na verdade, segundo ele, esse movimento deveria ser estimulado como procedimento de gestão, porque trabalhar com o que se tem e extrair do disponível o melhor resultado possível era importante para promover o desenvolvimento da inteligência do processo, preparar a boa recepção de elementos mais avançados ou promover o avanço tecnológico de maneira consistente, ou sustentável, diríamos hoje.
Daquela conversa registrei esses elementos essenciais, que me parecem, ainda hoje, muito sábios, para quem se dedica a gerir alguma coisa. De uma empresa a uma vida. Acima de tudo no mundo de hoje, onde se procura, de forma insistente, começar pelo melhor e mais caro, sem se preocupar com o custeio (intelectual e material) das atividades ao longo do tempo. Ou onde se quer desesperadamente chegar ao melhor, sem se permitir ser o pior.
O que o General tinha dito, me pareceu na época, e ainda me parece hoje, é que é preferível começar pelo simples e barato, com o que se pode ter numa situação de escassez, e construir lentamente, a partir daquilo, que é básico, os elementos que permitem uma progressão sustentada da tecnologia envolvida e que gera, ao mesmo tempo, condições de custeio adequadas. Os riscos, nesse caso, são minimizados, pois tudo que se vai fazendo se conhece. Foi uma conversa muito importante para mim, pois assim também devem ser as jornadas profissionais.
É interessante como uma opinião sensata, dita de forma quase displicente, por alguém a quem sequer fomos apresentados, pode ter uma influência tão grande na vida. Por isso é importante prestar atenção àquilo que os outros dizem.
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