
Prezados amigos,
A história do povo de Israel é uma história milenar, cheia de sofrimentos, alegrias, vitórias e derrotas.
Somos todos aqui um elo dessa longa trajetória que vem do passado e vai na direção do futuro.
Nesta semana observamos o jejum de 9 do mês de Av. Tisha B’Av. Muitas calamidades que afligiram nosso povo aconteceram nesta data.
As destruições do primeiro e do segundo Templos, são as mais evidentes. Mas inúmeras outras: a destruição de Betar, durante a revolta de Bar Kobah, em 135. Estima-se que ali morreram algo em torno de 500.000 pessoas. A expulsão dos judeus da Inglaterra, em 1290. A expulsão dos judeus da Espanha, 1492. A decisão pela “Solução final”, 1941.
E inúmeras outras, numa coincidência que não é coincidência, mas sincronia.
Mas Deus “não tem prazer na morte de quem quer que seja” (Ez 18:32). São os homens que geram suas próprias desgraças. Quando se afastam de Deus.
É assim na vida pessoal, na vida dos povos, da humanidade, e também na do povo de Israel.
E viver com o sofrimento, aprender a lidar com ele é um desafio da existência, nossa, íntima, e nossa, dos judeus.
Não há povo que na história tenha atravessado tantas dores, tantas angustias, tantas perdas quanto nosso povo. E, por isso, em 9 do mê Av nos recolhemos e meditamos sobre todas essas tristezas e tragédias.
Jeremias, testemunha da destruição do Primeiro Templo, escreveu um livro magnífico, Lamentações, que é lido em 9 de Av.
Neste livro ele reconheceu a culpa humana pela dor que aflige os humanos. Ele, que advertiu aos soberanos de Israel que a tragédia viria - se não retornassem ao caminho de Deus.
Mas conclui, horrorizado, que a marcha da insensatez humana não tem fim.
Conta um midrash que quando Jeremias estava fora de Jerusalém, no dia da destruição, em 9 de Av, ele viu uma coluna de fumaça que se erguia do monte do Templo.
E ficou feliz, porque pensou que o povo tinha se arrependido de seus pecados e voltado aos sacrifícios obrigatórios. E aquela fumaça vinha das oferendas de perdão e comunhão no altar do Templo.
Mas quando fixou o olhar viu que não. Era o Templo que ardia em chamas.
9 de Av é uma reflexão sobre nossa insanidade, diante da qual sofremos e sofre nosso povo.
No entanto, em Lamentaçoes, Jeremias afirmou:
“A benignidade do Senhor jamais acaba, as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade. A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto esperarei nele. Bom é o Senhor para os que esperam por ele, para a alma que o busca. Bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a salvação do Senhor” (Lm 3: 22-26).
Assim, no sofrimento, em Deus confiamos. Porque o sofrimento é aprendizado, deve ser aprendizado, e nos prepara para entender os caminhos que Deus abre em nossas vidas de povo de Israel, em nossas vidas íntimas.
Deus nos liberta e nos consola e nele confiamos sempre. E o fizemos bem em confiar, porque voltamos a Israel.
E assim também fazemos bem em nossa intimidade, porque Deus tem um plano para cada um de nós, assim como o tem para Israel. Este plano passa pela dor, mas culminará na nossa redenção.
9 de Av é dor, meditação, esperança, e nos mostra, hoje, que o caminho do ser é doloroso. Mas onde há esperança em Deus, sempre exitoso.
Porque Deus é absolutamente fiel. E nós devemos ser fiéis a ele. Em todos os momentos.
Shabbat Shalom!