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A solução da dor da história (I): a incerteza


Edgard Leite Ferreira Neto


O nosso deslocamento no tempo é cheio de incertezas e isso gera algum sofrimento. Maiores em uns, menores ou imperceptíveis em outros. Mas muitos se dedicam a sustentar que os desdobramentos futuros de nossos atos na história, tanto os nossos, pessoais, quanto os da sociedade, devem, de alguma forma, ser conhecidos com alguma antecedência. O que nos geraria certa tranquilidade no cotidiano de nossas decisões. E, realmente, todo o esforço do ser humano é pelo controle das circunstancias nas quais atuam.


Isso, ocorre, de forma documentada, desde o neolítico (circa 7.000 a.C.), quando começou a ser estabelecido um domínio sistemático sobre a produção e armazenamento de alimentos e dos mecanismos de proteção dos núcleos familiares e das comunidades. de forma a evitar surpresas e poder planejar o futuro com alguma segurança.


Desde a emancipação das matemáticas, na modernidade, tudo ficou ainda bem mais controlável, aparentemente, e nossos deslocamentos pelo nosso bairro, pela cidade e pelo mundo passaram a estar submetidos a mecanismos precisos de proteção diante de quaisquer elementos que poderiam vir a surpreender-nos. As ruas são sinalizadas, os carros atendem a padrões de segurança, os aviões são cada vez mais seguros. A medicina preventiva também nos dá segurança sobre o que vai acontecendo em nosso interior e tudo que no corpo ocorre é acompanhado de forma consistente.


No entanto, toda a segurança parece estranha para muitas pessoas. Em grande parte porque certas pessoas são muito sensíveis ao seu caráter ilusório. Muitas dessas sofrem de ansiedade e pânico e toda uma indústria de anestesias se desenvolve para eliminar tais inseguranças, que continuam existindo apesar da matemática e dos medicamentos.


Em grande medida isso ocorre porque se percebe que não há como se controlar todas as variáveis, e que, se um avião pode ser cada vez mais perfeito, essa perfeição responde apenas àquilo que está no âmbito de um dado conhecimento mínimo necessário para que ele possa erguer-se e realizar seu itinerário nas condições normais da atmosfera. A segurança dos aviões é estatística. É boa estatística. Mas sobram sempre alguns, ou muitos, números de variáveis não conhecidas, que delineia a existência da imprecisão.


E, além do mais, na busca do controle há exageros evidentes, com efeitos bizarros. Por exemplo, quando escutamos um dr. Michio Kaku sustentar que a imortalidade está ao nosso alcance (assista aqui), nos vemos diante de uma afirmativa muito contrária à observação humana do mundo, no qual tudo, absolutamente tudo, fenece. E percebemos em sua fala uma estranha reação à atitude de Deus no Jardim do Éden, que confirma, espiritualmente, a nossa constatação sobre a universalidade da morte: "havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida”(Gn 3:24).


A afirmação do dr. Kaku, portanto, tem implicações existenciais, porque apesar de toda segurança e todas promessas mirabolantes extraídas dessa segurança, o ser humano, intimamente, sabe que a morte existe e compreende, perfeitamente, que não pode controlar o momento do fim neste mundo. E que todo este controle tão maravilhoso, assegurado e atestável, é limitado. Por isso as crescentes ansiedades e pânicos, que a palestra do Dr. Kaku está longe de poder solucionar. Pelo contrário, ele parece reafirmá-las.


Há, de forma contínua, portanto, a busca de solução para essa angústia. Os ansiolíticos são uma resposta perene, que já existia antes das modernas linhagens de psicotrópicos. Mas embora aliviem a preocupação com a instabilidade da história, não a solucionam totalmente. Principalmente nos momentos de crises espirituais, sociais e políticas, onde as dúvidas aumentam. Embora, é bom observar, há dessas crises também no privado e no particular, mesmo em períodos de calmaria social.


(continua)




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