Edgard Leite Ferreira Neto
A defesa da inexistência da essência é o terror de nosso tempo e é, assim nos parece, horror para aqueles que neste tempo vivem com tais convicções.
Deve-se ponderar, no entanto, que se é aterrorizante uma existência que se estrutura sobre o vazio, deve-se anotar que é repleta de prazeres e que estes, mesmo terminando sempre, podem ser continuamente ampliados e desenvolvidos. Mesmo que terminem - sempre - e que, a cada término, esvaziem de forma cada vez mais profunda a consciência e, nessa alucinação contínua, acabem por imergir a alma.
Mas existem formas de se viver assim, portanto, e por isso o horror segue, crescendo e se ampliando. E por conta desse vazio os potentados florescem no meio das ruínas das consciências, apontado com arrogância os caminhos imaginários na extensão desse nada.
No entanto, há aqueles, que, agora mesmo, no meio dessa balbúrdia, acreditam no essencial e no eterno. Numa impressionante realidade invisível. Num prazer que não é do mundo e que nunca termina. Tal crença é desafiadora aos príncipes deste universo material e sustenta uma atitude de ataraxia na qual o principal objetivo da existência é o cuidado da alma e do seu destino. Sim, por que deveríamos nos entregar à fragmentação e ao inferno?
Por que devemos recontar a narrativa da essência no mundo da existência? Por que recuperar, neste mundo descrente, as substâncias das memórias e a realidade do espírito infinito das narrativas sagradas? Inicialmente porque é importante ocuparmo-nos “com tudo que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honroso, virtuoso ou que de qualquer modo mereça louvor” (Fp 4:8).
Porque isso aponta a direção para o nosso entendimento. E, ao faze-lo, resgatamos para nossa consciência a imortalidade neste mundo de coisas mortais. É importante reconstituir a história de algo infinito que ilumina esta realidade finita e a explica. Principalmente porque só essa história é capaz de tornar o ser algo maior do que fragmento e momento.
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