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Deus é origem e destino



Edgard Leite Ferreira Neto


Muitos nos dizem que não precisamos de Deus. Afirmam a inexistência de valores eternos. Sustentam que nada existe além disto, além da morte, além do visível. Tudo que importa está aqui. Só há desejos infinitos. E sempre reciclados. Flutuamos, portanto, sobre o nada e circulamos ao seu redor. Os prazeres vem e se desvanecem, e continuamos circulando. Nossa energias vão para esse nada continuamente.


Alguns cientistas também dizem que podemos transformar essa órbita insana em alguma coisa infinitamente deliciosa, e, de fato, sem as drogas não poderíamos viver de forma contínua junto ao nada. Elas nos ocultam as implicações desse vazio, tornam o que vivemos satisfatório. Anestesiam nossa perplexidade. Há muitas e cada vez mais drogas, legais, ilegais, ideológicas. Há muitas fantasias, representações imaginárias que fazem sentido no momento, mas como são do mundo, já não fazem mais sentido amanhã.


Não precisamos de Deus, dizem, porque Ele implica em controle, em contenção, em ligação a outras coisas, que não são visíveis. Ele nos exige fé, esperança, amor, antíteses do vazio. Há apenas, portanto, o nada, uma realidade visível em constante desagregação. Pode-se construir uma vida, uma sociedade, um mundo, uma civilização, assim? Muitos sempre sustentaram que sim.


Mas o não sempre se insinuou na consciência, desde sempre. Porque estamos diante, exatamente, do nada, de valores efêmeros e prazeres. Por que diria sim a isto? Quando olhamos para dentro de nós, em silêncio e concentração, percebemos que aqui, no interior, há alguma coisa. Algo que se rebela contra o nada. Que precede o prazer eventual e lhe recusa o sofrimento do fim. Um movimento que continua, e que se estende sobre o fim de todos os momentos. O amor, por exemplo, que nos chama para muito mais que o circulo dos encantamentos com o mundo.


E se nos aprofundamos nesse interior, percebemos que há uma realidade outra, sobre a qual muitos refletiram, ao longo das gerações, e nela se realizaram. Construindo vidas, sociedades, mundos, civilizações. É de contenção dos desejos, porque é muito maior que estes. Os desejos são efêmeros, mas a realidade espiritual é infinita. Não há droga neste mundo que a possa conter. Ou a fabricar. E ela existe independentemente de nos movermos em volta do vazio. E nos pesa no coração, quando a esquecemos.


Há sempre, em nosso interior, um chamado misterioso, para olharmos em sua direção, na direção do Espírito. A Bíblia diz que podemos sempre ouvir, quando prestamos atenção, aquele chamamento que Deus fez a Adão, quando este se encantava com o mundo, e nele se perdia, como hoje fazemos: "Onde estás?”


Consta que Adão respondeu "Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me" (Gn 3: 9-10) Podemos nos esconder neste mundo, nus. E circularmos nele, cheios de fantasias e ilusões. Mas essa realidade interior, essa voz profunda, sempre nos acompanha e nos chama para sairmos desse circulo infinito de nadas. Aí nos damos conta que não apenas precisamos de Deus. Ele é, na verdade, nossa origem e nosso destino. O nosso único tudo.


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