Edgard Leite Ferreira Neto
Uma aluna me perguntou qual a minha posição diante do atual quadro político. Acreditei que fosse óbvia. No entanto, me dei conta de que tendo a tratar os assuntos de uma forma muito abstrata e pouco concreta. Tomando dos métodos e das teorias apenas suas impressões mais vagas. Daí, talvez, meus poucos seguidores e minhas parcas vizualizações.
Mas, devo dizer, em resposta, que os meus princípios se tornaram muito claros com os anos. Inicialmente, passei a entender que a história é, acima de tudo, a história das decisões, morais, de conduta, de comportamento, de atitude que os homens tomam em função de desafios, a eles colocados pela vida. E, é claro, o fazem a partir de fundamentos morais naturais, que estabelecem o padrão necessário dessas ações. E existem consequências, quando negam ou se rebelam contra tais paradigmas interiores. Roubar é naturalmente errado. Mas sempre se tenta roubar, com consequências ruins de diferentes níveis para quem rouba. Pode-se, inclusive construir toda uma sociedade que se volte contra aquilo que é próprio do humano, mas tudo nessa direção termina em tragédia, como em Berlim, em 1945.
O homem possui uma natural inclinação para o bem, para a virtude, para a verdade. É próprio dele um senso moral, capaz de distinguir o bem do mal e o certo do errado. Isso não pode ser negado sem terríveis consequências, para as pessoas e as sociedades.
Assumir essa realidade, da inclinação natural para as virtudes, é uma escolha correta. Ser, por exemplo, parcimonioso nos desejos, solidário, equilibrado, objetivo nas atitudes, paciente, bondoso e humilde, é realizar tendências que nos permitem ser o que somos e entrar em sintonia com a ordem natural das coisas.
A nossa fala - e nossos atos - devem expressar essas atitudes virtuosas, e permitir uma conexão maior entre o que somos, a natureza que possuímos, e a sociedade na qual vivemos. Esta expressa nossa propensão à vida política, que deve se traduzir em uma boa existência moral, pois a sociedade deve também conspirar para a vitória das virtudes. O Homem é naturalmente amigo do Homem. Eventualmente pode ser o lobo do Homem, mas neste caso é uma perversão, comum, mas perversão.
Quando nossas fala e atitudes não transmitem essa sinergia entre o que somos em essência e o que devemos ser em aparência, conspiramos não apenas contra nossa própria identidade, mas também contra a harmonia social. Quando passamos a expressar mentiras, quando negamos ou disfarçamos a verdade, a nossa essência, minamos a ordem da sociedade, que deve existir, pois ordem é beleza. Porque a moralidade de uma dada ordem social é estabelecida pelo que de corretamente moral existe na consciência de seus integrantes, e a moralidade destes é dependente da moralidade geral.
Parece claro que existem pessoas e regimes que negam essa essência natural e constroem narrativas mentirosas sobre o que somos ou podemos ser. Por exemplo: as hierarquias entre os humanos são necessárias, pois estes são diferentes entre si e cada um é superior ao outro de alguma forma miraculosamente particular. Há beleza nisso, e na ordem que isso engendra.
Mas há aqueles que negam a existência dessa desigualdade, sustentando tiranias contrárias à liberdade humana de ser diferente. Esta liberdade é elemento essencial e também natureza do ser. O que constroem é bizarro e grotesco e previsivelmente leva o ser à reação no sentido de restabelecer o natural e belo.
Assim me parece evidente que só posso apoiar movimentos políticos comprometidos em maior ou menor grau com a paz e harmonia, com as boas ações e com o equilíbrio econômico da sociedade. Movimentos que sustentem a defesa da liberdade, a possibilidade do ser humano inclinar-se para as virtudes, e que sirvam de exemplo moral para a comunidade.
Não posso votar em quem, por exemplo, minta, ou roube. Ou que não mostre nenhum esforço moral em ser melhor como pessoa. Ou que negue, cinicamente, a existência de qualquer princípio limitador das suas ações políticas, considerando-se livre de toda e qualquer limitação moral na busca de seus objetivos. Ou que sustente um modelo social no qual ao invés da harmonia, busque-se o conflito, no lugar do perdão, a vingança. E no qual em vez de estimular o alcance de bens e satisfações espirituais defenda-se, apenas, a satisfação grosseira com as dimensões transitórias do mundo.
Assim, não posso deixar de estar ao lado daqueles que defendem projetos coletivos de harmonia e equilíbrio. Como a defesa da estabilidade familiar, na qual deve se estabelecer o aprendizado contínuo da verdade e dos afetos, ou o contido no desenvolvimento da pátria como espaço de realização do bem comum. Ambas experiências permitem o desenvolvimento da solidariedade, da esperança e dos bons sentimentos. É nesta direção que eu voto.
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