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Que pensamento?


Edgard Leite Ferreira Neto


Pensar de uma única maneira e exigir que todos pensem a partir de tal modelo é uma forte tendência no mundo em que vivemos. A tradição iluminista acabou por impor a tragédia da prepotência intelectual. Muitos consideram que aquilo que não coincide com certos pressupostos teóricos modernos é bizarro, ou primitivo, ou mesmo sequer é pensamento.


Há quem acredite, estranhamente, que pensamento é apenas aquele que tem como objetivo (ou ilusão) promover radicais transformações no mundo e no ser. É aceitável, por exemplo, assim se sustenta, desenvolver a capacidade infinita de manipular o átomo. E eu mesmo não posso deixar de me fascinar com esse movimento, que é parte integrante da natureza humana: avançar sobre o mistério.


Mas, simultaneamente, essa mesma pessoa não entende. como aceitáveis, pensamentos que apresentem cautela, reverente e moral, diante do desconhecido, ou que apenas objetivem caminhar ao lado do fenômeno, contemplando-o, ou que não entendam como relevante ou interessante mexer com o átomo.


Tal prepotência nega a pluralidade do entendimento, das inclinações pessoais e se expressa, hoje em dia, principalmente, na impossibilidade do diálogo. A grande maioria dos entusiastas do dito pensamento crítico tornou-se incapaz de dialogar com os entendimentos dissidentes, pois não os reconhece como narrativas possíveis ou aceitáveis.


Assim, a única maneira de interação que possuem é a negação do divergente. Em geral a desqualificação de quem pensa livremente. Há recusa de qualquer relacionamento. Recusa-se, portanto, o amor, a compaixão, a ternura. O que, por si, já é empobrecedor do ser humano e de seu entendimento das coisas: tanto as superficiais quanto as profundas.


Isso afasta e isola o pensador dissidente, mas, evidentemente, não o vence nem moral nem intelectualmente. E, principalmente, não resolve o problema do entendimento. Pois sendo o universo infinito são infinitos os olhares que sobre ele podemos ter. E esse é o grande risco do pensamento crítico: o tornar-se irrelevante, mesmo enchendo, com seus livros, todas as bibliotecas do mundo.

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