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Uma prece

por Edgard Leite

A prece a Deus é um momento tanto coletivo quanto íntimo.


É claro que, a todo momento, estamos próximos a Ele, e com Ele caminhamos. Mesmo que não pensemos ou lembremos na sua existência absoluta e universal.


Mas no serviço sinagogal, de forma coletiva, nos colocamos de pé diante de sua grandeza, e nos inclinamos, reconhecendo a nossa fragilidade diante do mundo.


Davi, no Salmo 5, se volta a Deus com muita esperança, na oração:


"Dá ouvidos às minhas palavras, ó Senhor; atende à minha meditação. Atende à voz do meu clamor, Rei meu e Deus meu, pois a ti orarei. Pela manhã ouvirás a minha voz, ó Senhor; pela manhã me apresentarei a ti, e vigiarei". (Sl 5:1-3)

Poderíamos existir sem essa esperança no socorro de Deus em todos os momentos de dificuldade da vida? Mesmo porque a vida é, em si mesma, pura dificuldade. E nada, no mundo, nos tranquiliza de forma absoluta. Como Deus o faz.


Como Davi, pedimos. E como Davi, esperamos.


Mas esperamos no silêncio da nossa consciência, na solidão absoluta do nosso interior, onde a presença de Deus é a única essência que compartilha conosco tudo aquilo que só no nosso interior pode ser conhecido.


A prece coletiva é, também, íntima, portanto, e está construída em um enraizamento profundo de angústias e sentimentos, que encontram, em Deus, um amparo, uma acolhida.

Não há maior proximidade ao ser, por outro ser, que essa proximidade de Deus.


Proximidade estranha, porque é enigma profundo. Sua presença é tão diferente de qualquer coisa que conhecemos. Mas nunca cansa.


Por isso a prece coletiva é íntima. Porque nos aproximamos de Deus a partir do abismo de nossa alma, no qual podemos sentir a Deus.


"Inclina, ó Deus, os teus ouvidos à minha oração, e não te escondas da minha súplica".(Sl 55:10). "Chegue a minha oração perante a tua face, inclina os teus ouvidos ao meu clamor” (Sl 88:2)


E Deus deu a Jeremias a certeza imperiosa de seu compromisso conosco:


"Eu é que sei que pensamentos tenho a respeito de vocês", diz o Senhor. "São pensamentos de paz e não de mal, para dar-lhes um futuro e uma esperança.Então vocês me invocarão, se aproximarão de mim em oração, e eu os ouvirei. Vocês me buscarão e me acharão quando me buscarem de todo o coração" (Jr 29:11-13).

Porque Ele pensa assim, é outro enigma. Profundo e inalcançável pela consciência. E cuja resposta se encontra no limite entre a alma e a sua origem. Para além dos limites da vida.

Mas intimamente temos todos nossas esperanças, e certamente Deus as conhece.


Possamos, com humildade, repetir a prece que fez Salomão, diante do Templo de Jerusalém:


"Volve-te pois para a oração de teu servo, e para a sua súplica, ó Senhor meu Deus, para ouvires o clamor e a oração que o teu servo hoje faz diante de ti.

Para que os teus olhos noite e dia estejam abertos sobre esta casa, sobre este lugar, do qual disseste: O meu nome estará ali; para ouvires a oração que o teu servo fizer neste lugar.

Ouve pois a súplica do teu servo, e do teu povo Israel, quando orarem neste lugar; também ouve tu no lugar da tua habitação nos céus; ouve também, e perdoa”. (1 Rs 8:28-30)


Esse é um pedido de puro bem, para que nosso lugar de oração seja uma linda casa de Deus. E que esse diálogo se torne uma fonte de permanente conforto para nossa consciência.


"Eu é que sei que pensamentos tenho a respeito de vocês", diz o Senhor. "São pensamentos de paz e não de mal, para dar-lhes um futuro e uma esperança”.


Que Deus ouça nossos pedidos, e nos ajude, por sua infinita ternura.


Shabbat Shalom.

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