Edgard Leite Ferreira Neto
Há um outro extraordinário quadro de Bosch: “Cristo carregando a Cruz”. Nele está também presente o tema da multidão brutalizada e a transfiguração física bizarra realizada pelos pecados humanos diante da beleza daquilo que sinaliza a eternidade.
O Cristo permanece em silêncio, diante do mal do mundo. Imerso na sua certeza divina. Alheio ao movimento grotesco que destrói as consciências e escraviza as almas. Se dirige para a eternidade com total quietude.
Se a nossa existência deve ser a imitação de Cristo, nos perguntamos, olhando esse Jesus poderoso na sua fragilidade diante dos fariseus e romanos: como se relacionar com o mundo? Percebemos que ele carrega sua cruz com calma, mas o faz ciente. Nesse momento, em absoluta serenidade. Os demônios se atormentam mutuamente. Mas não a ele.
Como podemos sobreviver nesse monstruoso mundo das multidões perdidas? Escreveu João:
"Porque nisto consiste o amor a Deus: em obedecer aos seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados. O que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”(1 Jo 5:3-4)
Tranquilo, diante do mundo terrível, caminha Jesus. Disse Deus: "tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16:33). Está claro que Bosch retrata aqui a vitória do espírito. E a nossa única vitória na vida só pode ser aquela que realizamos no espírito, na mansidão diante da tormenta.
Assim Bosch retrata nossa alma, como imitação de Cristo, se deslocando digna, pelas infinitas maldades do mundo, na direção da eternidade.
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