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A vitória do amor sobre a transitoriedade do mundo



No prefácio de seu livro Memórias, Sonhos, Reflexões, Carl Jung escreveu que


"Minha vida é a história de um inconsciente que se realizou. Tudo o que nele repousa aspira a tornar-se acontecimento, e a personalidade, por seu lado, quer evoluir a partir de suas condições inconscientes e experimentar-se como totalidade".


Essa afirmação representa a ocorrência, no pensamento contemporâneo, de um tema fundamental da tradição filosófica ocidental: o da afirmação de que aquilo que somos, nossa essência, desafia toda circunstância para tornar-se evento neste mundo. Essa ocorrência é comum e recorrente. E desafia, continuamente, o pensamento iluminista, que afirmou a tese de que nos tornarmos algo, acima de tudo, por ação do meio.


Aqui, Jung fala de alguma coisa que vem de dentro, de nosso interior, de antes de nossa relação com as coisas do mundo, e mesmo de antes de nascermos: da essência da pessoa, de nossa alma, que busca ser o que é para além da transitoriedade das coisas deste mundo. Realizando sua natureza eterna.


Isso é uma coisa importante de ser considerada em nosso tempo, tão descrente no essencial e tão ardorosamente crente no circunstancial. A vontade que, em nós, busca o bem é sempre sufocada pelos desejos que almejam os prazeres efêmeros do mundo. Mas há algo que, em nosso interior, desafia continuamente esses prazeres vagos e dispersos que caracterizam a arrogância e a vaidade; e que aponta a fragilidade das formas eventuais que o corpo e suas vontades adquirem nos momentos.


Esse algo, que chamamos de alma, traz em si a paz da eternidade e sua razão atormenta o Homem quando este vive apenas nesse redemoinho da existência. Deixar a alma fluir e permitir que encontre sua razão na eternidade e que realize a consciência nas suas virtudes é o melhor caminho para o fim de toda tormenta.


Não parece demais propor que uma das forças que emergem com o fluxo desse algo é o amor, esse mistério maior que o tempo, maior que as circunstâncias. E nenhuma experiência da vida é mais sensível na recusa da desagregação e mais propícia à elevação à eternidade do que esse sutil sentimento do amor, que nos apresenta uma verdade imortal. Ele triunfa sempre sobre a morte que em tudo aqui, no visível, habita.

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